"Gritando para não ficar rouca".

Todas as noites, tenho a demonstração do paraíso que todos falam, o qual jamais poderei tocar. É breve e maravilhoso; breve demais para quem só tem esse momento para realmente viver.
Seria um paradoxo dizer que não acredito em um inferno, pois vivo-o dia após dia; pois fui condenada ao desespero, ao silêncio.
Demônios me atormentam e sentem um sádico prazer nisso. Humilhada, decepcionada, desiludida, tento gritar, mas não há som; minha mente está cansada, meu coração chora, mas forcei meus olhos a conter as lágrimas que insistem em cair.
Tenho medo de dormir, então resisto até o sono me vencer. Sonhos do que minha vida poderia ser soam como pesadelos. Ver o sorriso que costumava me confortar, hoje me apavora. Tenho medo de acordar, pois encarar a realidade não parece uma alternativa melhor; sei que estarei sozinha.
Quisera eu viver o amor em todo seu esplendor; amar e ser amada, ser amada e amar. Invejo todos aqueles que não sonham, mas vivem o amor; que podem não somente senti-lo, mas tocá-lo. Mas também invejo os que odeiam, para os momentos que o amor parece impraticável.
Amo-o sim. Ainda, sempre. Amo como quem ama sua própria morte, seu próprio assassino, sua dor. Amo-o quando me esqueço de mim mesma, quando me privo do orgulho que tanto valorizo.
Ainda que eu pudesse tocar esse paraíso distante, não voltaria a ser quem costumava ser, quem eu adorava ser. Tento manter minha mente ocupada todo o tempo, mas a verdade é que hoje, vivo a mentira; e vivo pela mentira, por aquele paraíso doloroso de todas as noites...

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